REDE NACIONAL DE MULHERES DEFENSORAS DA MÃE TERRA (RENAMAT) EM INTERC MBIO BINACIONAL COM MULHERES DEFENSORAS ALIADAS DO INSTITUTO CORDILHEIRA
No marco das atividades realizadas pela Red Latinoamericana de Mujeres Defensoras, em aliança binacional entre nossos elos Colectivo CASA, de Bolívia, e Instituto Cordilheira, do Brasil, uma delegação de defensoras indígenas que estão resistindo aos impactos da mineração na região andina da Bolívia, articuladas pela RENAMAT, acompanharam uma série de atividades de incidência política e fortalecimento de mulheres que estão defendendo o território na região central de Minas Gerais, no Primeiro Encontro Binacional de Defensoras.
Na quinta-feira, 16 de maio, as defensoras de Bolívia visitaram a comunidade indígena de Xucuru Kariri Arapowã. São três povos que se uniram e que estão migrando há anos em busca de um lugar para viver. Sua origem é a região “Palmeira dos Índios’, no estado de Alagoas. Eles nos contaram que foi a espiritualidade, por meio de um sonho, que os guiou para Brumadinho, no começo de 2022. As defensoras e a comunidade trocaram experiências e estratégias para a defesa da água. O Estado afirma que a propriedade é da mineradora Vale e os irmãos e irmãs do povo Xucuru Kariri seguem presentes na área em um exercício de retomada da terra.
Na sexta-feira, 17 de maio, as defensoras de RENAMAT tiveram a oportunidade de conhecer o Córrego do Feijão, local onde ocorreu o colapso da barragem de rejeitos tóxicos da mineradora Vale S.A., em 25 de janeiro de 2019, que matou 272 pessoas. Foi realizada uma atividade com diplomatas da União Europeia e dos seguintes países: Alemanha, Áustria, Eslovênia, Espanha, Finlândia, Irlanda, Polônia, Portugal, República Tcheca, Suécia. Em uma roda de conversa, foram proferidos testemunhos das comunidades afetadas e de familiares de vítimas fatais do crime da Vale. Também foi falado sobre as condições de vida das mulheres atingidas pelo extrativismo minerário; impactos compartilhados por diferentes mulheres da região.
Além disso, dois temas receberam destaque: a cadeia de suprimentos de minerais e a diretriz de devida diligência em matéria de direitos humanos para as empresas europeias. O caso da tragédia em Brumadinho é um exemplo que mostra claramente como os atores europeus estão implicados nas violações de direitos humanos cometidas por empresas transnacionais na América Latina, considerando a participação crucial da certificadora alemã Tüv Süd. O Instituto Cordilheira e familiares de vítimas fatais do crime informaram para os diplomatas europeus que estão esperando uma decisão da Procuradoria de Munique sobre a demanda criminal apresentada na Alemanha, em 2019, contra a Tüv Süd e um de seus funcionários. “A justiça é um assunto de todos”.
Por fim, no sábado, 18 de maio, no marco do projeto “Lótus: a economia criativa de mulheres defensoras de territórios em conflito com a mineração”, apoiado pela Aliança Global para Ações Ecológicas e de Gênero (GAGGA), foi realizada uma oficina de intercâmbio de saberes sobre plantas medicinais, com a destilação de Alecrim do Campo, considerando o valioso trabalho das mulheres na defesa da natureza, da vida comunitária e do território corpo. Também foi realizado exercício de análise de custos para a precificação dos produtos agroecológicos e artesanais. Mulheres defensoras da região da Serra do Gandarela denunciaram que estão muito ameaçadas pelo projeto de mineração da Vale chamado Mina Apolo. Pediram o apoio de toda a América Latina por meio da assinatura da petição.
Para o Instituto Cordilheira foi uma emoção receber e ter a presença de mulheres autoridades indígenas cheias de sabedoria. Como Red Latinoamericana de Defensoras, celebramos essa aliança binacional entre os elos de Bolívia e Brasil, que fizeram possível este intercâmbio, cujo objetivo é tecer alianças estratégicas para uma incidência regional. Este é o primeiro encontro de uma série de experiências binacionais entre os elos integrantes.